Em entrevista à BBC Brasil, cirurgião plástico justificou operação devido às 'deformidades faciais' de Nadia Ilse.
Chamada de 'Dumbo' por suas orelhas de abano desde que tinha sete anos, Nadia chorava copiosamente no trajeto da escola à sua casa e à noite antes de dormir.
O bullying era tão nocivo à autoestima de Nadia que ela tinha vergonha de se olhar no espelho e chegou até mesmo a pensar em suicídio.
'Eu me sentia horrível e suja (...) Muitas vezes inventava desculpas para faltar as aulas, como dor de estômago', afirmou Nadia em entrevista à imprensa americana.
Mas, em casa, a menina escondia sua tristeza para não afetar a mãe, que tinha sido demitida havia pouco tempo e que precisava cuidar do irmão, Joshua, de nove anos, que sofre de paralisia cerebral.
Quando soube pelo que a filha passava, porém, Lynda ficou chocada e decidiu procurar ajuda.
Sem ter condições de custear por conta própria uma operação para a adolescente, Lynda recorreu à Little Baby Face Foundation, uma ONG sediada em Manhattan, em Nova York, que faz cirurgias gratuitas em crianças que possuem deformações faciais.
Atendida por Thomas Romo III, presidente da entidade e chefe do setor de cirurgia plástica facial do hospital Lenox Hill, em Nova York, Nadia foi operada em junho passado. A cirurgia, que custou o equivalente a US$ 40 mil (R$ 80 mil), foi feita de graça.
Críticas
'Quando Nadia chegou aqui, ela tinha deformações faciais graves, como orelhas de abano, além de desnivelamentos no queixo e no nariz', explicou Romo à BBC Brasil. 'Eu decidi operá-la não porque ela sofria bullying, mas porque ela apresentava tais deformações', acrescentou.
'No fim das contas, eu só soube que ela sofria tal tipo de chacota ao conversar com a mãe dela, depois que elas deram entrada no pedido da operação. O bullying, assim, ficou em segundo plano, porque a Nadia tinha problemas que necessitavam de procedimento cirúrgico', afirmou.
'Fui criticado porque muitas pessoas desconheciam o processo seletivo e acreditaram que eu havia operado Nadia exclusivamente por causa do bullying', disse.
Questionado se acredita que qualquer criança vítima de bullying deve recorrer a uma cirurgia para levantar a autoestima e livrar-se do problema, Romo disse que 'depende de cada situação. Muitas vezes, a criança é vítima de assédio moral porque tem algum tipo de deformação física visível. Em outros, não. Para todos os casos, é recomendável um bom diagnóstico e, claro, acompanhamento psicólogo'.
O caso de Nadia, que foi apresentado ao público americano através de uma reportagem na rede de TV CNN, lançou um debate no país sobre a melhor resposta a casos de bullying e se, no caso dela, a operação plástica foi mesmo necessária.
Vários especialistas argumentam que jovens vítimas de bullying, em vez de recorrer à plástica, deveriam ser ajudados para aprender a lidar com as provocações ou chacotas alheias.
Seja como for, segundo Romo, pelo que ouviu recentemente, Nadia está 'muito confiante de sua imagem'.
A menina voltou a usar os cabelos presos, algo que não fazia há muito tempo, por exemplo.
Romo destacou que a Little Baby Face Foundation recebe inscrições de crianças com deformidades faciais de todo o mundo. Além de pagar pela cirurgia, a entidade, segundo ele, financia a viagem e os custos relativos à internação dos pacientes selecionados.
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